Dilma
Rousseff estava reunida em audiência no Palácio do Planalto com o vice
Michel Temer quando Eduardo Campos ligou para a presidente na
segunda-feira, antes de conceder uma entrevista coletiva em Olinda, na
sede provisória do governo pernambucano (o Palácio do Campo das
Princesas está em reforma), para celebrar os bons resultados do seu PSB
nas eleições de domingo.
No
meio da entrevista, Dilma retornou a ligação. O governador pediu
licença aos jornalistas para atender à presidente e, na volta, informou
que Dilma o convidou para ir a Brasília. Na versão do Palácio do
Planalto, foi Campos quem propôs um encontro com Dilma na próxima
semana.
Pode
parecer irrelevante saber quem ligou para quem primeiro e quem tomou a
iniciativa de propor um encontro, mas o fato é que o protagonismo
federal conquistado por Campos, ao levar o PSB a importantes conquistas
nas eleições municipais, com um crescimento de mais de 50% em número de
votos na comparação com 2008, e elegendo os prefeitos de cinco capitais,
o colocou como pivô do jogo da sucessão presidencial de 2014, que já
começou.
Bobagem
perguntar ao governador agora para onde vai porque não vai responder e,
possivelmente, ele mesmo ainda não saiba a resposta. Se souber, não vai
dizer a ninguém. Eduardo Campos não tem pressa.
Ao
pedir, durante a entrevista, a votação ainda este ano de um novo rateio
do Fundo de Participação dos Estados, o governador pernambucano
desconversou sobre a sucessão presidencial: "Isto é parte de uma pauta
muito mais importante do que ficar discutindo como é que vai ficar 2014,
porque 2014 só se vai saber em 2014. Não tem quem saiba antes".
O
problema é que a presidente Dilma e o PT querem definir logo com quem
podem contar na base aliada para a disputa sucessória, antes de promover
a reforma ministerial que vai contemplar o novo quadro partidário saído
das eleições de domingo. Dilma e Lula ainda não se manifestaram sobre o
resultado das eleições.
Todo
mundo agora quer mais espaço no governo, a começar pelo PMDB, e é
grande a lista de aliados insatisfeitos, que nas eleições municipais já
apoiaram ou foram apoiados por partidos de oposição, como aconteceu com o
próprio PSB.
E
ainda precisa sobrar uma vaga para o recém-criado PSD do prefeito
Gilberto Kassab, derrotado em São Paulo, mas que cresceu no plano
nacional, conquistando quase 500 prefeituras em sua primeira eleição.
Kassab, como se sabe, joga em todas, e já andou namorando com o PSB.
Enquanto
Dilma e Campos não acertam as agendas, o ex-presidente Lula entra em
campo e já tem agendada para esta terça-feira (30) uma reunião com
Roberto Amaral, seu ex-ministro de Ciência e Tecnologia,
secretário-geral do PSB e principal articulador político do partido de
Eduardo Campos.
Do
lado da oposição, com o eterno candidato José Serra fora de combate
depois de mais uma derrota para Lula e o PT, desta vez no seu quintal
paulistano, o espaço se abriu para o mineiro Aécio Neves, agora
candidato natural do PSDB à presidência, que gostaria muito de ter
Eduardo Campos na sua chapa.
É
o sonho de uma noite de verão dos tucanos, que agora já admitem até
abrir mão da cabeça de chapa. "Meu time dos sonhos reuniria Aécio e
Eduardo Campos, sem importar em qual posição na chapa", admitiu, em
entrevista à Folha, o prefeito eleito de Manaus, ex-senador Artur
Virgílio, certamente porque o governador pernambucano já avisou que não
nasceu para ser vice de ninguém.
Por conhecer bem os dois netos, o de Tancredo Neves e o de Miguel Arraes, previ essa possibilidade semanas atrás aqui no Balaio.
A
tendência no momento é Campos deixar o barco, correr para ver o que
acontece, com um pé em cada canoa, até porque Aécio anda meio escondido
no Senado e ainda não conseguiu ganhar a confiança da mídia e do grande
empresariado paulista, que ficaram órfãos com a derrota de Serra em São
Paulo. Sem opções, podem investir no PSB de Campos que surge como uma
terceira via entre o PT e o PSDB.
As
vitórias do PT na capital, na área metropolitana e em importantes
cidades do interior paulista são um grande reforço para a campanha da
reeleição de Dilma, tornando mais difícil a vida do governador Geraldo
Alckmin, que agora não pode nem pensar em sair candidato a presidente,
como em 2006, simplesmente porque o PSDB ficou sem ninguém para disputar
o governo paulista no lugar dele. Além disso, não terá tempo para
apoiar o candidato presidencial tucano, às voltas com sua própria
campanha de reeleição.
Em
Minas, já se fala até na possibilidade de Aécio Neves voltar a disputar
o governo do Estado, indicando o atual governador, Antonio Anastasia,
para uma possível chapa de Eduardo Campos.
Se
Aécio não emplacar e o governador pernambucano adiar seus planos
presidenciais para 2018, a reeleição pode se tornar um passeio para
Dilma, a depender dos ventos da economia que hoje garantem seus altos
índices de aprovação.
Caso
contrário, o cenário se torna imprevisível, apesar do atual favoritismo
da presidente. Em dois anos, tudo pode acontecer. E é nisso que Eduardo
Campos aposta, sem pressa.
Via R7
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