A questão racial está gerando novos atritos dentro do Ministério das
Relações Exteriores. E desta vez a polêmica é no processo seletivo para o
Instituto Rio Branco, que seleciona os candidatos que servirão nos
quadros da diplomacia brasileira. Dentre os 10 nomes de candidatos
aprovados na primeira fase do concurso dentro das cotas para
afrodescendentes, divulgados nesta terça-feira, dia ( 10/09 ), está o de
Mathias de Souza Lima Abramovic. Pessoas próximas a Mathias, e que
também prestaram o concurso deste ano questionam, se ele de fato pode
ser enquadrado dentro dos critérios de afrodescendência. Para concorrer
dentro das cotas, basta que o candidato se declare “afrodescendente”.
Não há verificação da banca. Tampouco o edital do processo seletivo
define os critérios para concorrer como afrodescendente. O benefício é
válido apenas para a primeira fase, de onde somente as 100 maiores notas
são classificadas para a segunda etapa. As cotas reservam um adicional
de 10 vagas para afrodescendentes e outras 10 para deficientes,
totalizando 120 candidatos que continuarão na disputa. Nesta edição do
concurso, 6.490 brigam por uma das 30 vagas disponíveis. O morador do
Rio de janeiro/RJ, Mathias Abromovic, ficou com nota final 47.50, quase
dois pontos a menos que o último candidato aprovado na livre
concorrência. Em seu perfil no Facebook, há uma foto onde ele aparece
com uma camisa com os dizeres “100% negro”. Na legenda da imagem, o
candidato complementa: “com muito orgulho, feliz happy”. Ele já
desativou sua conta na rede social. De acordo com um dos candidatos que
estudou com Mathias Abromovic, que preferiu não se identificar para não
sofrer eventuais retaliações no concurso, o caso só enfraquece
políticas afirmativas que o Itaramaty tenta empregar na última década.
Ele lembrou ainda que, como a afrodescendência é autodeclaratória no
processo seletivo, o benefício pode ser utilizado por candidatos de
má-fé: Esse tipo de postura não apenas causa prejuízos à admissão de
candidatos efetivamente afrodescendentes, como, também, pode
deslegitimar uma política pública séria e efetiva", afirmou o
candidato. A questão racial é delicada no Itamaraty. Em julho deste ano,
o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa,
afirmou ao GLOBO que a instituição é uma das mais discriminatórias do
país. O próprio Barbosa prestou o concurso, mas foi reprovado nos exames
orais, que segundo ele, davam margem para critérios subjetivos de
avaliação e serviam para "eliminar os indesejados". Este é o segundo
processo seletivo do Instituto Rio Branco em que a política de cotas é
utilizada. Além delas, o MRE concede bolsas de estudo no valor R$
25.000,00 para que candidatos afrodescendentes possam prestar o
concurso. Diferentemente da política de cotas, nesse caso o ministério
faz entrevistas orais prévias com os candidatos à bolsa, onde pode ser
verificado se o postulante de fato se enquadra nos critérios da
afrodescendência. Lançado em 2002, o programa já concedeu 526 bolsas
para 319 pessoas. Desses, 19 foram aprovados.
Fonte e foto: O Globo
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